terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O escritor que não ditava linhas




Eis que tal escritor havia dito que jamais voltaria a escrever.
Pensara, pois, que tais palavras jamais deveriam ser ditas, quanto mais, registradas.
Mas, de fato, era este o verdadeiro motivo?
Qual seria o principal fundamento de tal afirmação?
Quantas coisas poderiam ter sido registradas, que este escritor não,
por egoísmo ou até mesmo,porque não, preguiça, este ser estranho e franzino
omitiu da literatura?

Quantas vezes, podia este, ter preenchido o vazio que habita a mente de
milhares de pessoas,
Quantas prosas, versos, poesias, hai kais, este escritor mesquinho e
corcunda poderia ter feito?

A verdade era a mais simples possível:
Sonhara, pois em descrever aventuras sem fim,
Monstros submarinos que somente Verne entenderia,
Poderia este, sim, descrever romances cheios de suspiro e,
porque não, milhares de histórias fantásticas sobre detetives,
contos de terror com finais surpreendentes,mundos e mundos
que jamais sairiam impressos,
senão fosse pelo motivo mais óbvio de todos: tristeza

Sonhara este, diversas vezes, com coisas fantásticas, sem nexo,
com um fundo moral, no fim das contas, porém enigmáticas.
Mas, como todo bom sonhador, há sempre um duro realista,
aquele que o desacredita do fantasioso, do inimaginável,
pelo simples motivo de concretizar-se em coisas mais paupáveis,
e por medo, de acreditar, que coisas impossíveis podem se tornar possíveis.

Quantos e quantos sonhos tivera,
Em vão,
Que poderiam, pois não, trazer sentido a vida das pessoas,
Respostas que muitos buscavam,
Pois sua musa era sempre infalível.

Onde estará o pensamento deste escritor agora?
Eu vos falo, pois o conheço mais do que qualquer um,
Sim, sou eu,
Afinal,
De tempos em tempos,
A coragem me examina e diz:"Levanta-te, pois!"
E de certo levanto, estalo meus dedos,
e escrevo até onde meus dedos cansados permitem,
pois os músculos dos dedos não competem com os do cérebro
E os músculos do coração, vez ou outra contraem-se
Numa sinfonia sem fim,
Onde a dor e a alegria,
Rufam o peito de um ser encantado com a vida.


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A obra O escritor que não ditava linhas de Flávia Pingarilho Rodrigues foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não-Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

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A obra A chuva de Flávia Pingarilho Rodrigues foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Uso Não-Comercial - Obras Derivadas Proibidas 3.0 Não Adaptada.
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Então veio a chuva,
e ela começou com apenas uma gota de susto na testa.
De repente nos deparamos que estávamos descalços,
e as gotas formaram um lago ao redor de nós.
E nossos pés ficaram encharcados,
e nossas meias cheias de lama e água.
Nossas calças tornaram-se escuras,
e nossos rostos brilhavam e pingavam.
E eu sentia o seu cheiro,
e ele era igual ao meu.
Cheiro de rosto molhado,
cheiro de rosto lavado.
E todas as frustações foram embora,
e todas as preocupações foram embora.
A água arrastou toda a lama para o chão,
e a chuva carregou a preocupação e dor para o bueiro.

Estávamos em meio a chuva,
Estávamos agora, de fato, eu e você.
Dois seres tão diferentes,
mas agora igualados,
igualados por meio da água,
da chuva que não parava de cair.